terça-feira, 24 de novembro de 2015

018 - Um Cão Chamado Oito

Há muito tempo, algumas pessoas têm me pedido para que eu dê notas às obras discorridas nas postagens da Filmoteca, da Biblioteca e da Discoteca, como se fazia nos tempos dos Culture Rangers. Desde que iniciei os trabalhos com os trigêmeos, sempre fui contra este tipo de coisa, porque eu achava que apenas o texto deveria servir para dar a minha opinião (mesmo por baixo da ironia e do sarcasmo eventualmente expressos), sem precisar de algum sistema de cotação para escancarar tudo. O importante, para mim, era despertar a curiosidade de você, leitor@, a ir buscar a obra e conferir se concorda ou não comigo.
Eventualmente, comecei a repensar minha posição, e fiquei indeciso. Portanto, resolvi deixar a decisão com VOCÊS! A partir de hoje, até o dia 06/12/2015, os posts da Filmoteca (e dos Trigêmeos, como um todo) terão um sistema de nota que julguei interessante. Mas dependerá de VOCÊ se este sistema continuará no ar. Próximo ao final desta postagem, há uma enquete. Por favor, responda-a (se quiser, pode votar quantas vezes desejar) - lembre-se que os Trigêmeos existem por minha vontade, mas persistem por VOCÊ, então, dê seu pitaco!
O filme de hoje me é especial por N razões. Tocar fundo em mim como ser amante de animais que sou a ponto de assistí-lo sempre e ter um fruto seu me acompanhando sempre com certeza é a maior destas razões. Ser uma obra que minha família inteira pode sentar junto e assistir, formando um momento especial, é outra.
Aposto que tod@s vocês já sabem de que filme falo, não? Vamos aos trabalhos!

Fonte da imagem: http://www.traileraddict.com/

Título: Sempre ao Seu Lado
Título Original: Hachi: A Dog's Tale
Distribuição: Stage 6 Films
Produtora: Hachikō, Grand Army Entertainment, Opperman Viner Chrystyn Entertainment, Scion Films e Inferno Production
Data de lançamento: 13/06/2009
Direção: Lasse Hallström
Produção: Bill Johnson, Richard Gere e Vicki Shigekuni Wong
Roteiro: Stephen P. Lindsey (baseado no roteiro do filme "Hachikō Monogatari", de Kaneto Shindô)
Elenco: enésimos cachorros (Hachi)
Richard Gere (Parker Wilson)
Joan Allen (Cate Wilson)
Sarah Roemer (Andy Wilson)
Robbie Sublett (Michael)
Cary-Hiroyuki Tagawa (Ken Fujiyoshi)
Jason Alexander (Carl Boilins)
Erick Avari (Jasjeet)
Davenia McFadden (Mary Anne)
Kevin DeCoste (Ronnie)
Tora Hallström (Heather)
Frank S. Aronson (Milton)
Se o cartaz do filme não lhe deu uma dica suficiente do que se trata o post de hoje, o GIF abaixo deixará bem claro! Prepare babadores e lencinhos!
Fonte da imagem: http://33.media.tumblr.com/

É muita fofura, gente!
Como amante de animais e da natureza, ver a chamada de um filme inédito na televisão sobre um cão virou programa obrigatório numa noite de sábado. Chamei dona Sassá para ver comigo. Ela estava desinteressada. Argumentei "É com o Richard Gere!" - e consegui a companhia no sofá. Então, ficamos no sofá e aturamos a Zorra Total para assistir Sempre ao Seu Lado.
Fonte da imagem: https://en.wikipedia.org/
Sempre ao Seu Lado é inspirado no roteiro do melodrama japonês "Hachikō Monogatari" - que, por sua vez, canaliza a história real de um cão chamado Hachikō, que viveu entre 1923 e 1935, e ficou famoso nacionalmente por esperar seu humano, Hidesaburō Ueno todos os dias na estação de trem que ele utilizava para ir e voltar da universidade onde lecionava - e se tornou um símbolo japonês de fidelidade.
Acho que um parágrafo sobre o nome é válido. Primeiro, porque são poucos os não-japoneses que conseguem pronunciá-lo corretamente. É fácil: RÁ-tchi-CÓ (a quentidade de gente que fala ra-CHÍ é incrível, mas aí, se falam dos palitos que os orientais usam para comer - hashi). Outro motivo é porque o próprio nome é uma coisa linda: numa tradução bem Google Translate, o nome dele pode significar "o oitavo filho", "a oitava criança" ou mesmo "o oitavo príncipe". De acordo com o site About.com, o número oito ("hachi") é considerado um número de sorte, porque o ideograma kanji para a palavra () consiste em dois cursos que sugerem o desenho de um monte. Ambos os cursos são mais largos na parte inferior, o que, para os japoneses, significa bons presságios. O "kō" é uma expressão carinhosa, como "chan", mas de cunho mais infantil e terno. Logo, um cão chamado Hachikō só poderia ser alguém MUITO especial, não?
Fonte da imagem:
OK, vamos a Sempre ao Seu Lado!
Créditos iniciais: quando vi o nome Lasse Hallström na direção, pensei imediatamente em ABBA! Sim, o senhor Hallström foi, para o bem e para o mal, o cara que dirigiu TODOS os videoclipes feitos pelo megagrupo sueco. Portanto, eu comecei a esperar por alguma estética megabrega e altamente corajosa como a dos clipes do quarteto, num misto de temor e curiosidade. Isso não veio. Embora bem piegas e carregado no sentimentalismo comum de filmes de animais - cães, especialmente -, a direção de Sempre ao Seu Lado é bem segura e regular, tipo "nada-fora-do-lugar".
Fonte da imagem: http://www.imdb.com/
Foi através de Sempre ao Seu Lado que fiquei curioso em conhecer mais do mentor dos vídeos do ABBA e descobri que não apenas ele tem três indicações ao Oscar nas costas, mas que eu já conhecia o lindíssimo "Minha Vida de Cachorro", e passei a conhecer "Chocolate", "Regras da Vida", "Gilbert Grape: Aprendiz de Sonhador" e, claro, "ABBA - O Grande Show"! Também soube que "Querido John" foi responsabilidade dele, mas ainda não vi o filme! E por suas mãos, mais um filme canino vem aí: ano que vem será lançada a versão cinematográfica do livro "A Dog's Purpose".
Resumindo, a filmografia do senhor Hallström: a) tem preferência por temas como infância e vida animal por ser vegano; b) é (aparte do filme do ABBA) grandemente baseada em adaptações literárias; e c) é para assistir com muitos lencinhos ao lado! Considerem-se avisad@s!
A história não tem nada de novo a oferecer possui muitas novidades em seu gênero, mas é extremamente eficiente entre os seus: um filhote de cão da raça Akita é enviado do Japão a um destino não especificado nos Estados Unidos, mas acaba extraviado por um acidente de percurso e cruza caminho com o professor universitário Parker Wilson. Como o cão não possui qualquer informação consigo a não ser o kanji "hachi" na identificação da coleira, e o danado resolveu seguí-lo, o pobre professor não possui outra alternativa que não seja levar o cão para casa - onde Cate, sua esposa, não quer nem saber do pobre bichinho (ela está enlutada por um canino anterior e naturalmente não quer passar por todo o ciclo de cuidar-criar-amar-e-perder de novo); mas a filha, Andy, fica encantada e nem precisa ser convencida (mesmo não morando, mais, com eles). Eventualmente, com a falta de notícias, Hachi vai ficando.
Fonte da imagem: http://www.imdb.com/
E então, o filme vira praticamente uma novela de Manoel Carloszzzzz... passada fora do Leblon: vemos Parker e Hachi estreitando seus laços cada vez mais, enquanto Cate observa de longe. Parker vai trabalhar, e nosso (desculpe, SEU) auau o acompanha até a estação, interagindo com toda a cidade no caminho. Quando Parker retorna de seu trabalho, lá está o rapagão a esperá-lo na estação. Festinha, fuafinha, e seguem para casa. Ainda há protestos, mas Parker consegue ficar com o cão.
A vida segue para a família Wilson, e Hachi está lá, junto! Andy arruma um namorado, que logo se torna seu noivo (e tenta de várias maneiras interagir com o cão, mas logo aprendemos: Akitas não são cães comuns). E Hachi segue Parker. Enquanto Cate pouco a pouco vai aceitando e aprendendo a amar Hachi. Andy se forma, e Hachi segue Parker. Andy e Michael se casam, e lá está Hachi, na festa. E continua acompanhando Parker no trajeto para o trabalho. Chega um novo bebê na família Wilson, e Hachi segue firme forte. Até... que você vá assistir o filme para saber o que ocorre.
Fonte da imagem: http://www.imdb.com/
Lembram quando eu falei que "Akitas não são cães comuns"? Realmente não são. O filme deixa explícito que criar um exemplar da raça não é atividade para qualquer um. Embora cordatos, eles não são cães que se conquistam facilmente, nem se misturam com a galera. Por ter, por assim dizer, "um jeitinho cheio de opinião própria", eles não fazem o que se esperam de outros cães (como brincar e buscar bolas, por exemplo). O roteiro capta perfeitamente este espírito - tanto que, quando Hachi faz algo "de cão comum", a gente se surpreende, mas percebe imediatamente que algo irá acontecer e virar o filme de cabeça para baixo.
Por "virar o filme de cabeça para baixo", dá para entender o que já creio ter deixado claro alguns parágrafos atrás: Sempre ao Seu Lado é um filme de roteiro BEM formulaico. Cada segundo deste filme é construído de modo descarado a fazer você, car@ leitor@/espectador@, chorar copiosamente (embora no meio, haja risadas e situações ultrafofas. Mas posso parabenizar Stephen P. Lindsey por tentar desviar um tanto da fórmula e centrar parte do filme na vida familiar dos Wilson. Embora o filme se centre em Hachi e no seu olhar, a história em si não daria nem um média metragem. Estabelecer os vínculos familiares, os pensamentos de cada um e suas rotinas ajuda o público a se identificar ao menos com um dos membros e rever situações que pode estar vivendo neste exato momento ou pelas quais já passou - além de dar chances para que outros membros do elenco também tenham alguma chance para brilhar.
Fonte da imagem: http://www.imdb.com/
O melhor exemplo, aqui, é Joan Allen. No segundo em que vi seu nome nos créditos iniciais, me perguntei "o que raios uma atriz com prêmios importantes na estante faz num filme destes?". Realmente, Cate Wilson não é um papel grande, mas ela o defende com fibra, lhe dá estofo. E sua última cena com o cão, quando ela o pergunta "posso esperar aqui, com você?", para mim, é uma das maiores cenas do cinema. SEM BRINCADEIRA. O cão nada faz, nem reage. Não olha para ela, tal como uma criança autista. Mas é esta (falta de) reação que permitiu a Allen dar um show de interpretação e extravasar toda a dor que aquela mulher carregava dentro de si. Simplesmente lindo.
Outro nome que causa estranheza é Jason Alexander. Vindo de um enorme sucesso televisivo que foi "Seinfeld", ele poderia estar fazendo mais filmes e seriados televisivos. Em Sempre ao Seu Lado, a gente meio que espera algo super engraçado, estilo George Costanza. Rola o mau humor característico, mas nada além - mas as tentativas de Carl, o agente da estação, aparecer nos jornais que querem noticiar Hachi são levemente engraçadas - dão pra um pouco mais que um sorriso amarelo.
Fonte da imagem: http://fatoselivros.blogspot.com.br/
Eu tenho que aplaudir a coragem de Richard Gere. Um cara como ele conseguiu para si um luxo que poucos atores possuem em qualquer lugar do mundo: o privilégio de escolher QUALQUER PAPEL em QUALQUER PROJETO, apenas com a força do seu nome. E ele escolhe justamente uma história onde o foco central não seria ele, nem qualquer outro humano, mas sim um cão. Simplesmente porque a história real o emocionou a tal ponto de ele acreditar que ela deveria ser contada para o mundo inteiro, e não apenas ao Japão. E conseguiu juntar um time bem competente consigo numa empreitada feita apenas "por amor", pois raramente tal tipo de filme rende aos grandes estúdios.
Fonte da imagem: http://www.adorocinema.com/
A trilha sonora de Jan A. P. Kaczmarek é bem trilha daqueles dramalhões - mas é intencional. O objetivo claro de Lasse Hallström é fazer com que @ espectador@ chore a qualquer custo. Mas isso não quer dizer que Kaczmarek tenha se restringido apenas a temas chorosos - os temas são bem variados e casam bem com cada cena, ao mesmo tempo que sempre indicam com alguma nota mais grave que "algo" vai acontecer, e a partir da virada, o tom das canções se torna mais grave, mas não exatamente sombrio - como que evocando saudade.
Sempre aos Seu Lado é um filme despudoradamente manipulador. Todos os ingredientes de picadinho de cebola descascada com colírio japonês estão lá, e recheados com bichos fofos, para garantir que nem pedras saiam da sessão encharcadas de lágrimas. E é eficiente. Mesmo as almas mais conscientes de tal manipulação emocional acabam caindo nessa e derrubando ao menos uma lágrima furtiva (vide as senhoras que estavam na sala de espera da fisioterapia comigo, na época do carnaval. No fim, o filme é simples, bem feito e muito cativante. Para quem ama animais e não tem medo de assumir que chora em filmes emocionantes.
De volta à nossa sala de estar, ao final do filme, dona Sassá estava a lavar o chão sem precisar gastar água. E soltou uma frase que me encafifou: "O... (soluço) nome... (soluço) doooo... (outro soluço) cachorro... (mais um soluço) vai serrrrrrr... (QUASE foi um soluço) Haaaaaachi."
Imediatamente, estranhei. Tivemos o Beethoven, que nos foi tirado de forma muito brutal dez anos antes, e nem dona Sassá nem seu Lula quiseram outro cão, de novo. Eu, mesmo, nunca me atrevi a falar no assunto. De onde ela veio com essa de cachorro chamado Hachi? Nem toquei, mais, no assunto.
Eis que, numa terça-feira, eu chego em casa do trabalho, e encontro uma coisinha branca que cabia na palma da minha mão.Praticamente duas bolas peludas brancas com cinco palitinhos peludos brancos atrelados. Mal conseguia andar, uma gracinha! E era verdade. Hachi havia chegado em nossas vidas!
É um pequeno abusado, barulhento e impositivo - é o "machinho brabo", que não quer saber de chamego, se não o interessar. Mas é carente de viver por perto de todo mundo (mantendo relativa distância) e uivar só de se perceber sozinho e viver pedindo braço quando quer fazer charminho.
É a criatura mais sincera que conheço. Quando gosta de alguém, GOSTA. E DEMONSTRA, TODAS AS VEZES. Se não gosta, BENZA DEUS. Ama brincar e carrega em si, por baixo da casca grossa de "menino mau", uma alegria de viver e uma energia que me inspiram, que que desejo ter em mim. Este é o meu Hachi.
Fonte da imagem: http://fatoselivros.blogspot.com.br/

Há hoje, na estação de Shibuya, uma estátua de Hachiko, no lugar onde ele ficava esperando seu dono voltar.
Quero muito viajar ao Japão. Uma de minhas metas por lá é conhecer a estação de Shibuya e tirar uma foto junto à estátua do cão número oito original. É uma forma que eu tenho de agradecer à quele que, de certo modo, me trouxe o Hachi que tenho aqui comigo, e que me lembra todos os dias o quão maravilhoso é ter alguém tão fiel e companheiro do lado!

Você acha que o Tom deve colocar nota nos posts dos blogs Trigêmeos?
SIM! Só os textos, às vezes, deixa confuso.
TANTO FAZ. O importante é despertar a curiosidade de conferir.
NÃO! Pra que explicitar algo que já está no texto?
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VEJAM TAMBÉM!
Biblioteca

"Manual do Arquiteto Descalço"
(técnico)
Johan Van Lengen
Discoteca

"Survivor"
(single)
Clarice Falcão

terça-feira, 17 de novembro de 2015

017 - Rock, Rock, Rock'n'Roll High School... Não, Péra!

Bom dia, boa tarde, boa noite, boa madrugada, crionças amadjeenhas de Tom!!!
Que bom lhes ver de novo!!! Ficaram com saudades e Tonzinho? por favor, digam que sim, eu sou muito carente, cês nem têm idéia!
Algumas semanas atrás, houve um encontro de dois dos Trigêmeos: a Filmoteca falou sobre "Chicago", enquanto a Discoteca discorreu sobre a sua trilha.
Desta vez, um novo encontro entre a Filmoteca e a Discoteca se deu, para alegria de quem curte meus Trigêmeos e tristeza de criaturas tristes e recalcadas quem não curtiu tanto assim, ou simplesmente odiou - neste caso, morram tod@s (CALMA, GENTE, EU ESTOU BRINCANDO!!!). Uma série de acontecimentos interligados me fizeram decidir por mais este set de postagens conjuntas. Me aparece uma obra que deveria ser algo apenas para aqui se desdobrou para a Discoteca mei'de boa. E aqui estamos!
E bora começar os trabalhos!

Fonte da imagem: http://filmow.com/

Título: Uma Escola Atrapalhada
Distribuição: Art Filmes e Columbia Pictures
Produtora: Embrafilme, Renato Aragão Produções e ZDM Produções
Data de lançamento: 29/06/1990
Direção: Antônio Rangel
Produção: Renato Aragão, Marcia Bourg e Paulo Aragão Neto
Roteiro: Renato Aragão, Luís Carlos Góes, Tania Lamarca e Paulo Aragão Neto
Elenco: Angélica (Tamí)
Supla (Carlão)
Jandira Martini (Alma)
Selton Mello (Renan)
Gugu (Chopin Luís)
Ewerton de Castro (Anselmo)
Fafy Siqueira (Cida)
Cristina Prochaska (Lisa)
Marcelo Picchi (Léo)
Maria Mariana(Natália)
Patrícia Perrone (Beta)
Márcia Monteiro (Isabela)
Sônia Clara (Ingrid)
Mariana Crochemore (Paula)
Leonardo Brício (Vinagre)
Nill (Décio Azeredo Palmeira de Castro)
Grupo Polegar (Alan, Alex, Ricardo e Rafael)
Renato Aragão (Didi)
Dedé Santana (Dedé)
Mussum (Mumu, o Mago)
Zacarias (Zacarias)
Fonte da imagem: http://www.buzzfeed.com/
O colégio Matheus Rosé deve ser o sonho de qualquer bicho-grilo ou coxinha endinheirado adolescente de classe média alta, cor branca, heterossexual, provável votante em partidos como PSDB, PMDB, PSC PRONA, PEN, DEM e similares saído de algum filme para adolescentes hollywoodiano (ou de Malhação): uma instituição liberal, com alun@s aplicad@s, dedicad@s ao estudo e respeitador@s, equipe e professores ou completamente pirados ou mais imaturos que os alunos . Tudo muito lindo, tudo muito belo... se a instituição não estivesse correndo o risco de fechar (mesmo com uma clientela mais que capaz de honrar seus compromissos com ela) e ceder espaço para uma rede de supermercados. Se o colégio fosse público, seria o sonho do PSDB, mas como não é o caso...
Fonte da imagem: http://filmesparadoidos.blogspot.com.br/

Nóis é RYCKAH, RYCKAH, RYCKAH de marré-marré-marré...
Fonte da imagem: http://www.buzzfeed.com/
O frágil ecossistema roseniano sofre um abalo quando aparecem indivíduos duma espécie invasora: os pobres desprovidos de condições financeiras, personificados por Isabella Marie Swan Tamí e os filhos de Mazzaropi os jovens rapazes interioranos em seu primeiro contato com a cidade grande. Como é de se esperar, os novatos comem o pão que Nico Demo amassou nas mãos da "galerinha legal" (ainda bem que nada tão drástico quanto com o pobre Jochem, alguns posts atrás). Mas nada aqui impede que aquele fogo na bacurinha se acenda interesses sejam despertados entre os dois grupos - o que, claro, gerará ainda mais confusão, em se tratando de um filme dito "para adolescentes".
Fonte da imagem: http://filmesparadoidos.blogspot.com.br/

QUEQUIÉ? Nóis é pobre, mais nóis é limpim!
Fonte da imagem: http://filmesparadoidos.blogspot.com.br/
A segunda ponta da história segue com o setor administrativo: Alma, a diretora do Matheus Rosé, sofre uma enorme pressão por parte de Anselmo, o bedel (esta palavra ainda existe? Bedel tem esta força pra fazer tal tipo de pressão sobre um@ diretor@?) do colégio, para que o terreno seja vendido a uma grande construtora. Aliás falar no bedel é algo complicadíssimo. O cabra é uma criatura, no mínimo sinistra: logo no início do filme, ele aparece raspando a cabeça de um aluno por mau comportamento. Creio eu que este tipo de comportamento não era aceitável nem mesmo na casa de determinados parlamentares criminosos (assim espero) durante a ditadura militar. Aliás, vale lembrar que Uma Escola Atrapalhada é da época do Governo Collor, o que significa: a ditadura havia "terminado" a bem pouco tempo! Muitas feridas que ainda hoje estão cicatrizando estavam, naquele 1990, abertas e bem abertas. Me pergunto como tal cena passou tranquilamente assim por todos os estágios de escrita, filmagem, montagem e exibição, ganhando indicação LIVRE! Só pode ser pela força do nome dOs Trapalhões.
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Todo mundo! "Passarinho quer cantar, o rabicho balançar, porque acaba de nascer..."
Por falar neles, é impossível não comentar o ENGODO que é Uma Escola Atrapalhada enquanto "filme dos Trapalhões"! Muit@s espectador@s (este que vos escreve, incluso), se sentiram enganad@s ao não ver apropriadamente a trupe num filme que se valeu de tamanho marketing em cima deles - inclusive no título! Didi, Dedé, Mussum e Zacarias não são os astros do filme, e sequer têm participação significativa. Didi é o único que tem mais de dois minutos de tempo de película - e até ele tem um papel reduzidíssimo, como o zelador boa-praça da escola, adorado pelos alunos, mas não por alguns dos professores. Dedé e Zacarias aparecem em determinado ponto apenas como agentes anti-bombas para uma esquete humorística, e dos quatro, Mussum é quem faz valer seus segundos de tela: ele está HILÁRIO como Mumu, um vidente que tem uma banca convenientemente instalada em frente ao portão da escola. Este, sim, soube fazer uma limonada com os limões podres que Renato Aragão lhe deixou.
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Didi Mocó plagiando Crocodilo Dundee na cara dura!
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O fato é que os tempos estavam mudando, e Os Trapalhões já não eram, mais, os reis das bilheterias das comédias infanto-juvenis. A partir da segunda metade dos anos 1980 (mais exatamente, após a briga que rachou o grupo em 1983), eles começaram a investir em nomes em voga na época, mas não necessariamente com talento, que chamassem o público para ver suas películas - a estratégia não é nem nova, nem exclusiva deles. Está certo que o quarteto foi se tornando uma espécie de coadjuvante de seus próprios filmes a partir daí, mas deu certo por um tempo. Tanto que vieram filmes com o Dominó (de onde saiu o Nill, que aqui aparece numa ponta luxuosa com direito a canção na trilha sonora - da qual falei lá na Discoteca), com Gugu Liberato (que também está aqui), Xuxa, Angélica e um grande etc. Entretanto, as bilheterias logo coltaram a cair novamente, e eles conscientemente decidiram dar alguns passos para trás no caminho dos holofotes para "testar a temperatura das águas". Ou seja: Uma Escola Atrapalhada não é um "filme dos Trapalhões", mas um filme com PARTICIPAÇÃO dos Trapalhões. Acredito que decidir se afastar do protagonismo foi meio que um "beijo da morte" para Os Trapalhões. Com certeza Zacarias merecia coisa muito melhor que Uma Escola Atrapalhada como seu último filme.
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Não se podis nem ler cartis em paz, cacildis!
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Aparte de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, o elenco adulto possui um número de nomes respeitáveis, que devem ter ganho um gordo cachê para pagar este king kong mico se perguntar a razão de terem aceitado participar deste filme até hoje. Jandira Martini, que fazia uma dobradinha maravilhosa com Marcos Caruso no teatro (e, mais tarde, na televisão, também), dá vida aqui à diretora Alma (talvez o único personagem com a profundidade de um pires alguma complexidade. Fafy Siqueira tem uma carreira extensiva no teatro e na televisão como comediante e imitadora com um pezinho na música, mas aqui, parece que nada foi útil em sua secretária pedófila e homofóbica tarada. Marcelo Picchi foi de filmes do Zé do Caixão, um casamento com a diva Savalla e papéis de destaque em novelas para este clone do Renato Gaúcho. Será que tal caracterização é por ser um professor de educação física? Lamentável... Acho que quem deve ter se divertido mais no trabalho foi Ewerton de Castro. O seu bedel inspetor Anselmo foi feito de modo TÃO canastra que ficou impossível pensar que ele levou o papel a sério alguma vez.
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Vem com a Fafyzinha, Leonardo, vem!
Fonte da imagem: http://filmesparadoidos.blogspot.com.br/
Sendo um "filme adolescente", óbvio que jamais poderiam faltar os talentos jovens que deveriam levar o filme nas costas. Como é de se esperar do elenco deste tipo de filme, a maioria caiu no mais profundo anonimato, mas um punhado deles mostrou a que veio: Maria Mariana, antes de se tornar o oposto de tudo o que o feminismo prega, foi a porta-voz da geração 1985-1995 ao escrever e protagonizar a clássica "Confissões de Adolescente". Leonardo Brício se tornou um nome conhecido e estrelou novelas na Globo e na Record. Patrícia Perrone teve alguns personagens de destaque na televisão, mas viria a largar a carreira artística alguns anos após esta película e se tornaria procuradora do estado do Rio de Janeiro. Márcia Monteiro foi para o outro lado da câmera: se tornou produtora e diretora de arte. E na seara dos nomes que deram certo, Uma Escola Atrapalhada revelaria ao grande público a estréia cinematográfica do nome que seria o mais festejado do cinema brasileiro atual: Selton Mello - embora eu, no lugar dele, jamais assumisse isso e ainda pediria para mudar meu nome para Alan Smithee. Sim, senhores: o senhor ator-roteirista-produtor-diretor de renome botou a carinha fofa nas telonas brazucas para levar tortada na cara justamente das mãos de Papito. Mas, pondo carreiras na balança, até que o dano foi mínimo.
Fonte da imagem: http://ciakomus.blogspot.com.br/

Planejamento: melhorar meu currículo!
"Tá, eles são um sucesso, já sabemos! Mas eles conseguem segurar o filme, tio Tom?" Já adianto uma coisa, se vocês não viram o filme, ainda: eles não fedem nem cheiram - logo, não conseguem carregar o filme nas costas (Selton ainda faz um trabalho "meio" decente como proto-coxinha, maasss...). Agora, um parágrafo especial tem que ser reservado aos protagonistas de direito do filme.
Fonte da imagem: http://entretenimento.r7.com/

NÃO TEM COMO DEFENDER ALGUÉM QUE USA ISSO!!!
Angélica Ksyvickis (conhecida meramente por seu nome de batismo) e Eduardo Smith de Vasconcelos Suplicy (codinome Supla), acreditem se quiserem/puderem/tiverem conexão com o Nirvana, um dia já foram um casal nas telonas brasileiras. Juntos, eles formam um dos casais mais insossos E sem liga que já fui obrigado a presenciar. Quase todas as cenas dos dois juntos (exceção semi-honrosa à cena de corrida) é quase uma experiência masoquista: um misto de tortura de assistir com prazer de rir do texto ruim dito sem qualquer emoção ou mesmo entonação adequada por qualquer dos dois. O filho do petista com a ex-petista segue com a sua persona pública pré-Marcos Mion: moleque rico, mimado e birrentorapaz rebelde e de atitude "eu-sou-o-perigo", então, não parece se esforçar muito - mas o peste parece incapaz de sequer repetir uma linha de diálogo passada por ponto eletrônico, incrível uma coisa dessas! Isso porque nem falei que seu Carlão, o anti-herói da parada, é um cabra, para mim, impossível de ter alguém que goste. A não ser Tamí, a personagem de Angélica. Um amigo (que eu JAMAIS direi que é o Daniel Vícola!), certa vez, me comentou "como pode uma pessoa tão sem talento e sem carisma dar tão certo?" Realmente, ela não canta tão bem; nem dança, lá, estas coisas. Claro, se vamos comparar com a outra loura-mor dos anos 1980, Angélica vira Greta Garbo (mas quem não vira?). Mas ainda não é o bastante para dizer que ela é ALGO. Ela melhoraria um tantinho com o tempo (Fada Bela foi um bom exercício) - mas posso dizer que a senhora Huck é fruto da conjunção "lugar certo+hora certa+pessoas certas" (até onde a fórmula durou). Depois disso, uma ética de trabalho quase espartana criou a casca necessária à sobrevivência no meio - afinal, ela está aí já tem mais de trinta anos, então, só nos resta reconhecer que ela tem exatamente o necessário pra se manter - em outras palavras: TALENTO.
Fonte da imagem: http://emilicas.blogspot.com.br/

Faço tipo ou é charme natural?...
Uma Escola Atrapalhada é um pastiche de filmes pseudo-adolescentes estadunidenses. Como um protótipo do que viria a ser "Malhação", absolutamente TODOS os clichês estão lá: os adultos ou duros ou ternos, os adolescentes esquisitos, os peixes fora d'água, @s bullies, @s esportistas, @s garot@s-do-lado, as fofocas, as trairagens... tudo com uma pitada de tempero brasileiro: Uma Escola Atrapalhada é tão moralista e exala tamanho ar oriental-judaico-cristão disfarçado de "prafrentex" (qualquer dia desses, meus Trigêmeos ganharão algum selo de gíria velha de tanto que as uso) que algo me diz que o Colégio Matheus Rosé deve ter abrigado apenas parlamentares da atual bancada brasileira. Sério, serinho! Fora uma sucessão de maus exemplos incrível: a mocinha passa cola (e tem uma atitude deplorável), ... Isso sem falar nos casos mais graves, sem sequer citar o vilão do filme: é um rapaz cometendo sabotagem, é uma senhora tentando seduzir um adolescente e disparando gritos homofóbicos após uma recusa às suas investidas, é uma menina agredindo um garoto em suas partes baixas, e sofrendo retaliação na forma de um murro no rosto (detalhe: agressor@s/agredid@s são justamente os PROTAGONISTAS do filme!)...
Fonte da imagem: http://ciakomus.blogspot.com.br/

MHWUAAAAAAAHUAHUAHUAHUAHUAHUAAAAA!!! Nunca gostei do Clube da Criança mesmo!
Fonte da imagem: http://filmesparadoidos.blogspot.com.br/
Mas aí, na contramão de tudo isso, Walter Carvalho nos traz uma fotografia tórrida que quer exalar aquilo (mesmo com a falta de figurinos que eventualmente ocorre nesse filme) que mais está em falta nesta película: SEXO. As cores são sempre quentes, transmitindo um calor escaldante, que supostamente influencia os personagens de hormônios já explosivos. A azaração rola solta no filme, mas são (quase) tod@s tão comportad@s que quando aparece uma menina suspeitando de gravidez, a gente pensa que está vendo "Je vous salue, Marie". A obra também tem aquela coisa temerária que ocorre muito em comédias ligeiras ou filmes com um elenco muito extenso: buracos negros crateras furos no roteiro, daqueles bem crassos, mesmo!
Fonte da imagem: http://filmesparadoidos.blogspot.com.br/

Nóis semu do interiôrrr, mais nóis semu talentôsu!
E os "videoclipes" inseridos no filme? De Supla gritando num quarto de atmosfera sadomasoquista, repleto de estátuas religiosas decapitadas e uma enorme cruz cheia de luzes neon a Angélica entoando "Angelical Touch" enquanto faz poses que talvez não fossem apropriadas para uma menina de quinze anos e investe em caras e bocas à meia-luz. Inegavelmente inesquecível, mas não pelos motivos certos. O fato é que tanto os clipes quanto o trabalho de fotografia e figurino visam trazer a atmosfera contestadora que algum ponto não-identificado do filme (creio eu ser o roteiro) tenta emanar, mas o que conseguem de fato é gerar conflito na identidade que se pretende que o filme passe, seja qual for ela (e tornar os vídeos ainda mais deslocados da narrativa).
Fonte da imagem: http://ciakomus.blogspot.com.br/

Esquece esses clipes e "Fecha na Prochaska"!
No final, eu fiquei com a impressão de que vi um filme que - talvez pela enorme quantidade de gente com diferentes objetivos envolvida nos bastidores - não sabe, exatamente, o que quer ser nem que mensagem passar. Não tem carga para ser uma drama. Não tem graça pra ser uma comédia (exceto as poucas cenas onde Os Trapalhões aparecem - menos de cinco minutos com os quatro juntos!). Moralista demais pra ser revolucionário (só consegue soar coxinha). Libertino demais (sem conseguir ser sexy) para ser algo casto ou até mesmo prudente de se exibir para crianças deste 2010. Mais uma vez: uma obra que não sabe o que é, de verdade. Que nem qualquer ser humano cheio de contradições internas - ou mesmo aqueles hipócritas, mesmo, de esbravejar um discurso e agir de modo bem diverso.

Gratidão à Filmologia, à Empadinha Frita, à Cia. Kómus de Comédia e ao Filmes para Doidos pelos detalhes que me passaram despercebidos e informações adicionais para balancear este post!

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