terça-feira, 8 de setembro de 2015

007 - Vida Boa É a dos Outros, que a Televisão Mostra

Olá, amadinh@s de Tom! Como estamos tod@s?
Lá em mil-novecentos-e-oitenta-e-lá-vai-bolinha, os Titãs disseram que a televisão nos deixa "burr@s" demais. MiniTom, quando sair desse estado sitting dead de transe, talvez concorde (ou não). Eu, pessoalmente, discordo. Primeiro, porque isso é uma ofensa aos pobres Equus asinus, que são animais inteligentíssimos. Segundo, porque eles atribuíram à pobre televisão uma característica que a tira de seus status primordial: o de FERRAMENTA.
Televisão, assim como a internet, são meras ferramentas que devem ser utilizadas para facilitar o nosso dia-a-dia. Não mais que isso! Se precisamos de entretenimento puro, há centenas de opções de programas para isso; se precisamos nos informar sobre o que acontece no mundo, a televisão (supostamente) nos oferece uma nesga de visão sobre os eventos mais recentes; se precisamos aprender, há uma série de programas que se pretendem educativos. Mas isso não quer dizer em absoluto que a televisão deva ser nossa babá. Somos NÓS que devemos decidir O QUE VER ou mesmo SE VER. Quem nos estupidifica somos nós mesmos, mesmo com os esforços de outr@s que possuem o poder de decisão sobre o que vai ao ar!
Mas sigamos ao filme de hoje, sim?

Fonte da imagem: http://thisdistractedglobe.com/

Título: Rede de Intrigas
Título Original: Network
Distribuição: Metro-Goldwyn-Mayer/United Artists
Produtora: Metro-Goldwyn-Mayer, United Artists
Data de lançamento: 27/11/1976
Direção: Sidney Lumet
Produção: Howard Gottfried e Fred C. Caruso
Roteiro: Paddy Chayefsky
Elenco: Peter Finch (Howard Beale)
Faye Dunaway (Diana Christensen)
William Holden (Max Schumacher)
Robert Duvall (Frank Hackett)
Wesley Addy (Nelson Chaney)
Ned Beatty (Arthur Jensen)
Beatrice Straight (Louise Schumacher)
Lee Richardson (narração)
Após um triste episódio envolvendo a jornalista Christine Chubbuck e a notícia de que um grande grupo estaria em negociações para comprar a rede ABC, Paddy Chayefsky refletiu que uma vez que uma corporação mundial ganhe controle sobre uma emissora, ela pode tentar fazer do setor de jornalismo algo rentável, habilitando-a a degradar as notícias e transformá-las em entretenimento e que a emissora se encontraria num processo de "tudo pela audiência" em busca de lucros com patrocinadores. Nascia ali "Rede de Intrigas".
Howard Beale, âncora do telejornal da United Broadcast System, é demitido por estar "ficando velho". Ele, então, anuncia aos telespectadores - com várias tiradas raivosas sobre o estado do mundo - sua intenção de se suicidar em seu programa final. Com o estouro da audiência, a emissora parece lhe dar um novo valor e incentivar seu comportamento cada vez mais surtado, revogando sua demissão e lhe dando um novo programa e o apelido "O Profeta Louco da Televisão".
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"Eu estou louco da vida, e não vou aturar mais isso!"
Diana Christensen é uma quenga de marca maior ambiciosa chefe de programação que enxerga em Beale o trampolim para levar a emissora ao primeiro lugar em audiência. Logo convence o escroto escudeiro da corporação na emissora, Frank Hackett, a transformar o corte final o evento num especial televisivo. Mas, quando Beale instiga seus telespectadores a irem às suas janelas e gritar o mais alto possível "Eu estou louco da vida, e não vou aturar mais isso!", todo o jogo muda - o que o torna a personalidade televisiva mais quente dos Estados Unidos, e Diana se tornou a galinha dos ovos de ouro da emissora. Ela planeja tornar o noticiário noturno puro entretenimento (com uma vidente e tudo o mais), num programa construído em torno dos rompantes de Howard: "A Hora de Beale".
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É hora do "Show do Mao Tse-Tung"! Soltem os doidos e bora filmar sangue!
Max Schumacher, chefe do departamento de jornalismo da emissora e melhor amigo de Howard, é forçado a lhe dar a notícia de sua demissão, e tem sua posição comprometida com a exposição negativa da emissora que Beale trouxe com suas tiradas. Com o "renascimento" do âncora nas graças da audiência, Max percebe a necessidade de tratamento de seu amigo e se recusa a explorá-lo - e sofre a puxada de tapete final. O mesmo compasso moral que o impediu de explorar Beale não funciona quando ele resolve se encangar ter um caso justamente com quem lhe puxou o tapete: Diana - e até larga a família por ela.
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Sou o marido traidor, mas vou voltar pra minha mulher porque a audiência não permite que a Tradicional Família seja destruída!
"Rede de Intrigas" é um filme não de Sidney Lumet ou da United Artists, mas de Paddy Chayefsky - o cartaz e os créditos do filme deixam claro. Não é à toa: ele estava no set todos os dias e ia aos estúdios de telejornais toda noite para assegurar que os atores pudessem dizer da maneira exata o que ele havia escrito no roteiro - logo, como numa peça teatral, ele assumiu o crédito pela película e diretor e produtores não tiveram outra opção que não concordar. O resultado final fez de Chayefsky a única pessoa a ganhar três Oscars de Melhor Roteiro sozinho (os outros que também ganharam três estatuetas as dividiram com co-roteiristas).
Com toda a interferência e controle de Chayefsky, Sidney Lumet parece mais ser diretor apenas de título - mas não creio que, neste caso, seja algo que o incomode, visto que ele e Chayefsky eram muito amigos e ambos começaram na televisão. De qualquer modo, ele é um diretor que meio que "se adapta" às suas obras, tal qual um camaleão. Antes deste, Lumet já havia feito "Serpico", "Assassinato no Orient Express" e "Um Dia de Cão" - mostrando seu maior foco nas histórias dos personagens, mais que em estilos visuais, gêneros ou algo que se identifique como "filme de Sidney Lumet" - no máximo, a maioria deles se passa na cidade de Nova Iorque.
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Eu ganhei a parada, seu fidapextx! Agora, suma da minha tevê!
O elenco formou um conjunto que dificilmente haverá outro igual. Um grupo de atores que conseguem ser engraçados sem precisar tentar ser comediantes. Peter Finch, mostrando ser um ator destemido e de grande alcance dramático, ganhou o papel da sua vida (e que ironicamente viria a ser seu último - ele faleceu de ataque cardíaco menos de dois meses após o lançamento de "Rede de Intrigas") no histérico Howard Beale - que não poderia ser mais diferente do contido dr. Hirsh de "Domingo Maldito" - e ganhando merecidamente por ele o Oscar de Ator Principal (o primeiro Oscar póstumo entregue para uma categoria de interpretação). Faye Dunaway dominou o filme (sinto muito, Finch) como a sedutora sem alma nem coração e levou a estatueta de Atriz Principal para casa (francamente, acho que Sissy Spacek ou Liv Ulmann deveriam ter ganho). E terceira estatueta de atuação foi para Beatrice Straight - como digníssima esposa de Max - para Atriz Coadjuvante (foi boa, sim, mas Piper Laurie fez um trabalho muito melhor), em uma das performances de tempo de tela mais curtos da história a ganhar um prêmio. Robert Duvall faz de Hackett o maior pé-no-saco da história do cinema (juro, eu queria socá-lo desde o décimo segundo dele na tela). William Holden, também indicado a Melhor Ator Principal, dá uma ótima interpretação de andropausa, parecendo alienado e triste por toda parte. Ned Beatty também ganhou uma indicação para Ator Coadjuvante como o presidente da corporação, Sr. Jensen, que lança um descontrolado Beale em seu próprio evangelho, numa participação ainda mais curta que a de Straight.
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As nações de hoje são IBM, ITT, AT&T, Dupont, Dow, Union Carbide e Exxon! Cai na prova de Geografia, então, estude!
Eu adoro este filme. De verdade. O humor negro, a metalinguagem e a sátira me atraem, e a película oferece tudo isto num pacote só, nas doses certas. A sátira mordaz da "TV Mundo Cão" que é "Rede de Intrigas" parece ficar cada vez mais relevante - e profética - a cada ano que passa. Paddy Chayefsky enxergou longe a direção que fomos tomando - pena ou sorte que ele não viveu para ver - até a era globalizada (ou, como prega o presidente da corporação a Beale, "uma vasta e gloriosa companhia ecumênica"). Uma era onde corporações mundiais hoje tomam conta de grandes emissoras televisivas, radiofônicas e até da mídia impressa. Onde não existe, mais, uma linha clara separando jornalismo de entretenimento (não que isso seja algo propriamente ruim) e, neste 2015, é possível ver as táticas pesadas de manipulação populacional (comentaristas pregam suas próprias versões das notícias sem nenhum disfarce da sua parcialidade, matérias sendo editadas ao bel-prazer de quem comandar a bagaça) por parte destas empresas, desde a proliferação de reality shows pelas grades de programação até mesmo a exploração nada velada da miséria humana para puro entretenimento. O que falta fazer por audiência, mesmo, é matar alguém ao vivo na televisão (OPS...). O pavor é descobrir que Howard Beale viria a existir de verdade em poucos anos e se espalhar pelas redes televisivas mundiais. O que será de nós, mais para a frente?

Los Angeles Film Critics Association Awards 1976:
Melhor Filme (Howard Gottfried), empatado com Irwin Winkler e Robert Chartoff, por "Rocky: Um Lutador"
Melhor Diretor (Sidney Lumet)
Melhor Roteiro (Paddy Chayefsky)
Kansas City Film Critics Circle Awards 1976:
Melhor Atriz em Papel Principal num Filme Cinematográfico (Faye Dunaway)
USA National Board of Review 1976:
2º Lugar: Top10 Filmes (Howard Gottfried) - Vencedor: Walter Coblenz, por "Todos os Homens do Presidente"
National Society of Film Critics Awards 1977:
2º Lugar: Melhor Atriz em Papel Principal (Faye Dunaway) - Vencedora: Diane Keaton, por "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa"
2º Lugar: Melhor Ator em Papel Principal (William Holden), empatado com Gérard Depardieu por "A Última Mulher" - Vencedor: Art Carney, por "A Última Investigação"
2º Lugar: Melhor Roteiro (Paddy Chayefsky) Vencedores: Marshall Brickman e Woody Allen, por "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa"
3º Lugar: Melhor Ator em Papel Coadjuvante (Robert Duvall ), também por "The Seven-Per-Cent Solution" - Vencedor: Edward Fox, por "Uma Ponte Longe Demais"
Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films 1977:
Melhor Filme Cinematográfico - Drama (Howard Gottfried) - Vencedores: Hugh Benson e Saul David, por "Fuga no Século 23"
Golden Globes 1977:
Melhor Ator em Papel Principal num Filme Cinematográfico - Drama (Peter Finch)
Melhor Atriz em Papel Principal num Filme Cinematográfico - Drama (Faye Dunaway)
Melhor Diretor de Filme Cinematográfico (Sidney Lumet)
Melhor Roteiro de Filme Cinematográfico (Paddy Chayefsky)
Melhor Filme Cinematográfico - Drama (Howard Gottfried) - Vencedores: Irwin Winkler e Robert Chartoff, por "Rocky: Um Lutador"
New York Film Critics Circle Awards 1977:
Melhor Roteiro (Paddy Chayefsky)
2º Lugar: Melhor Atriz em Papel Principal (Faye Dunaway) - Vencedora: Diane Keaton, por "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa"
2º Lugar: Melhor Filme (Howard Gottfried) - Vencedor: Charles H. Joffe, por "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa"
American Cinema Editors Award 1977:
Melhor Montagem de Filme Cinematográfico (Alan Heim) - Vencedores: Richard Halsey e Scott Conrad, por "Rocky: Um Lutador"
Directors' Guild of America Awards 1977:
Melhor Direção Cinematográfica (Sidney Lumet) - Vencedor: John G. Avildsen, por "Rocky: Um Lutador"
Writers' Guild of America 1977:
Melhor Drama Escrito Diretamente para Cinema (Paddy Chayefsky)
Academy Awards 1977:
Melhor Ator em Papel Principal (Peter Finch)
Melhor Atriz em Papel Principal (Faye Dunaway)
Melhor Atriz em Papel Coadjuvante (Beatrice Straight)
Melhor Roteiro Original (Paddy Chayefsky)
Melhor Filme (Howard Gottfried) - Vencedores: Irwin Winkler e Robert Chartoff, por "Rocky: Um Lutador"
Melhor Ator em Papel Principal (William Holden) - Vencedor: Peter Finch, por "Rede de Intrigas"
Melhor Diretor (Sidney Lumet) - Vencedor: John G. Avildsen, por "Rocky: Um Lutador"
Melhor Ator em Papel Coadjuvante (Ned Beatty) - Vencedor: Jason Robards, por "Todos os Homens do Presidente"
Melhor Cinematografia (Owen Roizman) - Vencedor: Haskell Wexler, por "Esta Terra É Minha"
Melhor Montagem (Alan Heim) - Vencedores: Richard Halsey e Scott Conrad, por "Rocky: Um Lutador"
Premi David di Donatello 1977:
Melhor Atriz Estrangeira (Faye Dunaway), empatada com Annie Girardot por "Cours Après Moi ... que Je t'Attrape"
BAFTA Awards 1978:
Melhor Ator em Papel Principal (Peter Finch)
Melhor Filme (Joseph Janni e Edward Joseph) - Vencedores: Charles H. Joffe, por "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa"
Melhor Ator em Papel Principal (William Holden) - Vencedor: Peter Finch, por "Rede de Intrigas"
Melhor Atriz em Papel Principal (Faye Dunaway) - Vencedora: Diane Keaton, por "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa"
Melhor Ator em Papel Coadjuvante (Robert Duvall) - Vencedor: Edward Fox, por "Uma Ponte Longe Demais"
Melhor Diretor (Sidney Lumet) - Vencedor: Woody Allen, por "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa"
Melhor Roteiro (Paddy Chayefsky) - Vencedores: Marshall Brickman e Woody Allen, por "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa"
Melhor Trilha Sonora (Dick Vorisek, Jack Fitzstephens, James Sabat, Marc Laub e Sanford Rackow) - Vencedores: Gerry Humphreys, Les Wiggins, Peter Horrocks, Robin O'Donoghue e Simon Kaye, por "Uma Ponte Longe Demais"
Melhor Edição (Alan Heim) - Vencedores: Ralph Rosenblum e Wendy Greene Bricmont, por "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa"
Nippon Akademī-shō 1978:
Melhor Filme em Língua Estrangeira (Howard Gottfried) - Vencedores: Irwin Winkler e Robert Chartoff, por "Rocky: Um Lutador"
USA National Film Preservation Board 2000:
Registro Nacional de Filmes
Producers' Guild of America Awards 2002:
PGA Hall of Fame - Filmes Cinematográficos, empatado com "Sob o Domínio do Mal"

4 comentários:

  1. Certo dia esse filme passou no TC Cult. Como foi por volta das 2:00 da madruga, fiquei de dá só uma espiada (nunca tinha assistido a ele). Resultado: só fui dormir após as 4:00, hipnotizado pelo texto e pelos atores!

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  2. Muito interessante. Queria tanto que você comentasse os seriados das Panteras e o Homem de Seis Milhões de Dólares!!!!

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    1. Sugestões anotadas, caríssima! Já começarei a procurar onde assistir!
      Muito obrigado pela visita!

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